quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O Alpinismo industrial na inspeção de equipamentos

http://www.metalica.com.br/images/stories/artigos-tecnicos/artigo_alpinismo_raimundo/art_raimundo_fig01.jpg

Bom dia, hoje o blog linha de vida apresenta mais um assunto sobre trabalho em altura, aguçando a curiosidade e o despertar dos assuntos relacionados a acesso por cordas, também conhecidos como Alpinismo ou Escalada industrial (onde não pode relacionar com qualquer atividade esportiva - Figura 1), que já é utilizada há pelo menos 20 anos nos EUA e Europa, mas vem ganhando espaço no Brasil por proporcionar mais segurança nas tarefas, redução de tempo e custo dos serviços. Veja o artigo abaixo.

"Introdução
 Detectabilidade e previsibilidade são temas diretamente ligados à atividade da inspeção de equipamentos, para o alcance de campanhas operacionais mais seguras, garantindo assim resultados confiáveis que irá gerar melhor controle dos custos serviços realizados em menores prazos, de forma segura e baixo custo. Mas, para isto acontecer é necessário termos os equipamentos nas mãos, significa valer-se das tecnologias e práticas consagradas existentes a fim de obter o máximo de dados e informações, para melhor avaliá-los, veja Figura 02. Porém muitas vezes o acesso e/ou a forma geométrica do equipamento é um fator que dificulta e encarece a execução das tarefas de inspeção.
http://www.metalica.com.br/images/stories/artigos-tecnicos/artigo_alpinismo_raimundo/maior/art_raimundo_fig02_gde.jpg
Este trabalho apresenta a aplicação da técnica de Alpinismo Industrial, praticada hoje em algumas indústrias, abordando os cuidados necessários quanto à segurança, capacitação de pessoal, análises de riscos necessárias devido à execução do serviço em paralelo com outras atividades e as diversas especialidades, vantagens e desvantagens. Além da Inspeção, essa técnica permite hoje um melhor retorno nas atividades de soldagem, pintura, caldeiraria, operação e outras.
http://www.metalica.com.br/images/stories/artigos-tecnicos/artigo_alpinismo_raimundo/art_raimundo_fig03.jpg

1 - Consideração Geral
O Alpinismo Industrial é uma técnica opcional de trabalho em altura, que combina as mais avançadas técnicas de acesso a locais elevados e em ambientes confinados, utilizando cordas e equipamentos específicos de descida e ascensão veja Figura 03), em serviços onde envolva risco de queda e/ou acesso difícil. Possibilita a diminuição no tempo dos trabalhos gerando um aumento de produtividade e diminuição nos custos, tudo de acordo com os padrões de segurança estabelecidos pela Norma Regulamentadora -18 (Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção). Apesar da utilização de cordas e equipamentos especiais como meio de acesso, o Alpinismo Industrial nada tem em comum com qualquer atividade esportiva que se assemelhe. Não há busca de adrenalina, nem aventura, o Técnico Alpinista visa apenas à execução do seu serviço com segurança e qualidade.
É uma técnica que já vem sendo utilizada na Europa há pelo menos 25 anos, e no Brasil a 10. É também conhecida como, Acesso por Corda (ACC) ou Escalada Industrial.
2 - Segurança e Equipamento
Todos os EPI s e elementos que compõem os equipamentos do Alpinismo Industrial são de última geração e certificados pelo Ministério de Trabalho (CA), Comunidade Européia (CE), Associação Nacional Americana de Proteção contra Incêndio (NFPA) e União Internacional das Associações de Alpinismo (UIAA) veja Figura - 02. Oferecem maior agilidade nos movimentos do alpinista no deslocamento entre um ponto a outro com conforto e segurança.
O alpinista industrial realiza os trabalhos, suspenso por duas cordas, sendo uma de suspensão (trabalho) e outra de segurança. A corda de suspensão permite, mediante a utilização do material adequado, deslocar-se em sentido descendente ou ascendente. Todos os aparelhos de progressão são auto-blocantes. A corda de segurança, junto com o cinto de segurança, talabarte duplo com absorvedor de energia e o dispositivo trava-quedas, completam o equipamento de proteção individual antiqueda.
http://www.metalica.com.br/images/stories/artigos-tecnicos/artigo_alpinismo_raimundo/maior/art_raimundo_fig05_gde.jpg

http://www.metalica.com.br/images/stories/artigos-tecnicos/artigo_alpinismo_raimundo/maior/art_raimundo_fig06_gde.jpg

O local da estrutura onde as cordas serão instaladas pontos para ancoragem é previamente inspecionado quanto à solidez (veja o exemplo com as linhas de vida nas Figuras 05 e 06). Cada corda se encontra presa a pontos de ancoragem diferentes e não comportam nenhum outro elemento, sendo estes os principais, junto com o caráter auto-blocante dos equipamentos de progressão e segurança, o que elimina a possibilidade de queda por um erro mecânico ou humano. Pontos quentes e cortantes são verificados ao longo da via de acesso para que as salvaguardas necessárias sejam instaladas.
Um talabarte duplo com absorvedor de energia é utilizado por cada alpinista, a fim de mantê-lo sempre preso durante a manobra de abordagem posicionamento com as cordas de trabalho e segurança para iniciar a descida pela via de acesso. Todas as ferramentas e acessórios utilizados pelo alpinista para realizar a sua inspeção são amarrados à sacola, para que não caiam caso escorreguem das mãos durante uma tarefa ficam penduradas. A área abaixo onde será realizada o serviço de alpinismo, é devidamente isolada e sinalizada. Todos os EPI s e acessórios são inspecionados antes e após a conclusão de cada jornada de trabalho, quanto as suas condições físico-operacionais pelos próprios profissionais que utilizarão estes equipamentos.
Figura 07 - Funcionários fazendo a checagem um do outro.
Antes de iniciar qualquer serviço os alpinistas fazem a autochecagem dos seus EPI s, e são checados novamente por outros membros da equipe veja Figura 07 . Para qualquer serviço onde irá ser empregado o Alpinismo Industrial, é realizado uma Análise Prévia de Risco para identificar os perigos, causas, modos de detecção, efeitos, atividades executadas em paralelo, e as recomendações necessárias para que a tarefa possa ser executada com segurança. Geralmente participam desta análise, os profissionais das seguintes atividades: Processo, Planejamento, Segurança Industrial, Manutenção, Inspeção e Alpinismo.
Após conclusão das análises é gerado um documento constando às ações e recomendações decididas, o qual é divulgado a todos os envolvidos nos serviços. Essa análise de risco tem que ser sustentada por uma técnica conhecida e consagrada, como matriz de riscos, e deve ser rediscutida, toda vez que a condição inicial dos serviços forem alteradas, principalmente no que se refere a agentes externos e alterações climáticas. O número da equipe de alpinismo varia em função do tipo de serviço e grau de dificuldade que este possui, porém a equipe mínima são dois alpinistas. Este número deve ser pré-estabelecido durante a analise de riscos, inclusive os instrumentos de comunicação a serem utilizados.
3 - Posicionamento e Acesso
As técnicas de posicionamento e acesso no trabalho com alpinismo industrial não só contribuem para prevenir acidentes, mas também aumentam a produtividade. Elas permitem não só com que o profissional se concentre melhor sobre a tarefa que irá realizar, mas oferece também um nível muito alto de segurança. Os tipos de acesso que são utilizados no Alpinismo Industrial podem variar de acordo com o serviço a realizar, tomando como base à forma geométrica e acessibilidade do equipamento objeto da inspeção, são eles: Escadas e plataformas, andaime, escada mecânica, tirolesa (consiste em passar uma corda de um lado ao outro, para efetuar uma travessia horizontal) e criação de um acesso (conquista) - veja figura 08.
http://www.metalica.com.br/images/stories/artigos-tecnicos/artigo_alpinismo_raimundo/maior/art_raimundo_fig11_gde.jpg
Figura 08 - Tablado para montagem de andaime.

4 - Qualificação de Pessoal
Para a execução de trabalhos em altura com a técnica do Alpinismo Industrial, os profissionais deverão estar fisicamente aptos, treinados, qualificados e com conhecimentos específicos de todos os equipamentos usados nesta atividade. Como toda técnica, faz-se necessário garantir a capacitação do pessoal envolvido, sendo indispensável que o Alpinista Industrial também esteja qualificado e capacitado nas atividades que irá desenvolver, seja como inspetor de ensaios, equipamentos, qualificação necessária para o serviço, veja Figura 09 para melhor clareza dos fatos.
http://www.metalica.com.br/images/stories/artigos-tecnicos/artigo_alpinismo_raimundo/maior/art_raimundo_fig19_gde.jpg
Figura 09 - Treinamento, simulado e  manutenção.
5 - Relação Técnico - Econômica
Vários são os fatores que estão levando a expansão do uso do Alpinismo Industrial na inspeção de equipamentos: necessidade de reduzir os custos, obrigação de atendimento aos prazos inspeção, redução nos índices de acidentes, busca por novas tecnologias, credibilidade nos serviços executados, confiabilidade e disponibilidade dos equipamentos objetos da inspeção.
http://www.metalica.com.br/images/stories/artigos-tecnicos/artigo_alpinismo_raimundo/art_raimundo_tabela.jpg
Figura 10 - Tabela de comparação de custos e tempo.
5.1 - Caso 1
A tabela da figura 10, compara o custo e o tempo entre o Andaime e o Alpinismo Industrial para executar a tarefa de inspeção em tubulações que descem ao longo de um vaso. Para o cálculo foi considerado a montagem de um andaime simples de 4 x 2 m, inspeção visual externa em 5 tubulações pintadas sem a remoção das braçadeiras para inspeção. Não considerado o tempo de desmontagem do andaime; na coluna do alpinismo é considerado o tempo total (montagem, inspeção e desmontagem).
Tabela montada utilizando custos reais. Não considerado para este cálculo que algumas empresas têm como norma de segurança, montar um tablado em volta da região onde será montado o andaime, para proteger instrumentos ou equipamentos importantes no processo. Neste caso o valor do andaime aumentaria em pelo menos 35% a mais. Não foi colocado os valores em Reais, por questões éticas. Como pode ser observado a economia utilizando o Alpinismo Industrial é substancial.
Com posse da tabela (veja figura 11) , se tivéssemos de inspecionar as tubulações que descem ao longo de uma torre de 40m e = 3m, e que as mesmas estão distribuídas em 1/2 perímetro dela, será que utilizaríamos o andaime para esta tarefa?
http://www.metalica.com.br/images/stories/artigos-tecnicos/artigo_alpinismo_raimundo/maior/art_raimundo_fig14_gde.jpg
Figura 11 -  Utilização da montagem de andaimes ou apinismo industrial.

5.2 - Caso 2
Inspeção em 29 suportes de mola geminados (G), instalados a uma altura de 10 m cada. Foi utilizado o alpinismo industrial, para acesso aos suportes, o que gerou uma economia de 85% comparando se como o custo de andaime.
Vale lembrar que a quantidade de funcionários para montar o andaime seria maior, o que aumentaria a exposição a acidentes, tanto em pessoal como em material. Ver tabela a seguir.
6 - Aplicações na inspeção de Equipamentos
O Alpinismo Industrial vem sendo utilizado na inspeção de equipamentos, tanto nas inspeções externas como internas, visual, sob isolamento (onde temos a corrosão silenciosa), execução de END s em geral) em todo tipo de equipamentos e estruturas: Vasos, Tanques, Esferas, Cilos, Caldeiras, Chaminé, Plataformas Marítimas, Flare, Estrutura Metálica, Torres de Alta Tensão, de Rádio, de Telefonia, Viadutos, Pontes, Prédios, Tubulações, etc (Veja figura 12).
 http://www.metalica.com.br/images/stories/artigos-tecnicos/artigo_alpinismo_raimundo/maior/art_raimundo_fig21_gde.jpg
Figura 12 - Inspeção em ambientes confinados utilizando técnicas do alpinismo Industrial.

7 - Informações Complementares
Na Europa as empresas de trabalhos verticais estão agrupadas em associações: Espanha ANETVA Grã-Bretanha IRATA, França SNETAC, Alemanha FISAT. No Brasil ainda não foi criada uma associação que agrupe as empresas que executam trabalhos verticais.
Vantagens
- Sem limite de altura de trabalho operacional.
-Diminuição do custo operacional em função do menor número de profissionais envolvidos.
- Aumento da qualidade do serviço e melhoria no ambiente de trabalho, 
- Dispensa o uso de andaimes tubulares ou suspensos. 
- Diminuição de risco, com profissionais treinados para resgate de peças, equipamentos e pessoas. 
- Maior agilidade de mobilização. Em caso de emergência a saída do local é mais segura e garantida. 
- Não necessita de estruturas pré-construídas.

Desvantagens
- Em céu aberto algumas atividades não devem ser realizadas sob chuva 
- Nenhuma atividade paralela poderá ser executada onde o acesso está sendo realizado
8 - Glossário
Ancoragem - local da estrutura que oferece sustentação para os sistemas de segurança contra quedas. É onde são aplicadas as forças no caso de uma queda, tração, suspensão ou posicionamento. 
Ascensor - dispositivo que, engatado à corda, permite deslocamento em corda fixa, içamento de cargas e auto-segurança.
Auto-resgate - conjunto de técnicas que permitem a evasão da via em uma situação de emergência.
Backup - ponto de ancoragem extra, necessário para a segurança do escalador caso um dos ascensores se solte. 
Descensor - dispositivo que permite ao escalador descer deslizando pela corda. Alguns servem também para a segurança do praticante.
Linha de vida - cabo ou corda (horizontal ou vertical) no qual o profissional é fixado através de um trava-quedas ou blocante, a fim de bloquear eventuais quedas. 
Mosquetão - anel metálico, em forma de "D" ou "O", que possui em um dos lados um segmento móvel, chamado de gatilho, que abre para permitir a passagem da corda. Há também mosquetões com trava, para evitar a abertura acidental do gatilho. 
Posicionamento - ação de posicionar-se no ponto de trabalho, fixando-se através de talabarte ou corda, para execução de atividade. 
Talabarte - dispositivo de ancoragem que envolve a estrutura, utilizado para posicionamentos. 
Tirolesa - travessia horizontal feita através de uma corda fixa ligando os pontos de partida e término da travessia suspensa do solo. 
Via - é o local previamente escolhido para o acesso com cordas.

Conclusão
O Alpinismo Industrial é uma das técnicas de acesso, que usada como ferramenta de apoio, permite melhor e mais rápido contato com as regiões a serem inspecionadas. É mais segura e mais econômica quando comparada, com andaimes, balancins, escadas com corda, e etc., além de permitir acesso a locais anteriormente impossíveis pelos métodos convencionais, considerados difíceis e onerosos. Os pontos fortes que tem levado a expansão do seu uso: segurança, redução de custo, otimização de tempo, diminuição do risco de queda devido ao menor número de pessoas e material envolvido. A técnica não elimina o uso de andaime dentro da indústria, pois poderá não ser a melhor alternativa para alguns casos na manutenção ou outra atividade. Porém, dá maior flexibilidade à execução das atividades, principalmente na inspeção, com respostas mais rápidas e menor custo.

Referências 

Catálogo da Petzl Professional 2000 / português;
NR-18 - Norma Regulamentadora -18 Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção;
NR-6 Norma Regulamentadora 6 Equipamentos de Proteção Individual;
NBR 11370 Norma Brasileira Registrada 11370 Cinturão, talabarte e corda de segurança;
NBR-11371 Norma Brasileira Registrada 11371 Cinturão, talabarte, e corda de segurança Ensaios.

Autor:
Raimundo de Oliveira Sampaio 

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Respostas
    1. Olá, boa tarde.
      Sim Mailson, é muito importante por diversos fatos, mas o principal é a minimização das estatísticas com quedas em altura.
      O alpinismo industrial, é a forma mais rápida, segura e custeio de equipamentos pois ao início da atividade, o colaborador já inicia atracado ao acesso por corda.
      Saudações,
      Equipe LINHA DE VIDA

      Excluir
  3. também trabalho com Alpinismo Industrial no Rio de Janeiro, esse nosso ramo está crescendo muito e hoje no Brasil toda empresa precisa deste tipo de serviço.

    Abraço

    ResponderExcluir